A PRIMAVERA CHEGOU! VIVA A PRIMAVERA MAS...

O que se passa com os insetos e porque isso é fundamental?

Todos temos na memória que quando andávamos de automóvel na primavera ou no verão os pará-brisas ficavam cobertos por insetos esmagados. E falo em memória pois, infelizmente, isto deixou de acontecer visto o número de insetos ter vindo a diminuir a uma velocidade assustadora. Assustadora pois, embora normalmente não tenhamos desenvolvido uma grande empatia com eles, os insetos são absolutamente indispensáveis à nossa sobrevivência.
Simpatizamos com as borboletas pelo seu majestoso bailado colorido, com as joaninhas pelo seu colorido e pela forma estranha como abrem as asas para voar, achamos curiosas as estranhas e grandes libelinhas e, desculpamos as abelhas pois, apesar de nos picarem, sabemos que trabalham incansavelmente fazendo mel ou assegurando a polinização, uma atividade que sabemos ser essencial para que possamos comer fruta.
Todos os restantes insetos, e são muitos... mesmo muitos... (mais de um milhão de espécies descritas que representam mais de metade da biodiversidade animal que conhecemos), ou os ignoramos ou, quando se atrevem a invadir as nossas casas, corremos a ir buscar inseticidas e mata-moscas. Se os nossos desejos se concretizassem as moscas, os mosquitos, as formigas e as vespas já estariam extintos.
Os nossos desejos não matam mas, infelizmente, as nossas ações matam.

As inimagináveis quantidades de pesticidas e fertilizantes químicos que anualmente despejamos sobre os campos, a devastadora destruição de habitats, a poluição, as alterações climáticas, as espécies invasoras e... e... têm sido responsáveis pela drástica destruição de insetos em todo o Mundo.

Mesmo nas zonas mais remotas e aparentemente pouco tocadas das grandes florestas, a redução do número e variedade de insetos é preocupante. Extremamente preocupante, pois os insetos são fundamentais para o equilíbrio de muitos processos que ocorrem no nosso planeta e dos quais dependemos.

Um dos processos mais evidentes é a polinização das flores sem a qual estas não evoluiriam transformando-se em frutos (muitos dos quais nós e as aves comemos), que são essenciais para a formação das sementes, sem as quais não haverá a formação de novas plantas. Embora a polinização possa ser feita pelo vento ou até pelos pássaros, pelos morcegos e até pelas próprias plantas, este é um processo difícil. Muito difícil, pois implica que os minúsculos grãos de pólen existentes nas anteras das plantas, consigam atingir os pequenos óvulos, bem protegidos nos estigmas permitindo a fertilização.

Ao visitarem as flores à procura do néctar, os insetos não só ficam cobertos de pólen, mas também originam nuvens de pólen tornando mais fácil a junção entre o pólen e os óvulos, quer seja na mesma flor, quer entre flores diferentes o que para algumas espécies de plantas é imprescindível que aconteça. Embora o nosso imaginário atribua esta função de polinização pelos insetos às "amigas" abelhas, o sector dos vegetais dos nossos supermercados seria bastante mais pobre, sem os serviços de muitos outros insetos.
As detestadas moscas, que trabalham mais horas que as abelhas e não são tão sensíveis ao frio, são responsáveis por culturas mais abundantes e variadas de, por exemplo, cenouras, cebolas, pimentos, tomates ou mirtilos. Sem as moscas, para desgosto de muitos de nós o Mundo seria menos doce, pois não haveria o cacau para fazer os chocolates que consumimos em grande quantidade.
Uma reflexão mais atenta sobre os "serviços" dos insetos rapidamente nos leva da preocupação ao medo e... ao terror! Os problemas causados pela falta de insetos têm enchido numerosos livros e artigos científicos, não cabendo nas poucas linhas desta resposta. Mas alguns exemplos rápidos são mais que suficientes para nos obrigar a olhar para os insetos de um modo diferente... muito diferente!!!
  • Para que uma cria de andorinha chegue à idade adulta ela precisa de comer cerca de duzentos mil insetos e uma cria de chapim-azul pode consumir até uma centena de lagartas por dia.
  • Sem insetos, a generalidade dos animais que morrem nos campos dariam origem a amontoados de matéria putrefacta disseminadora de doenças.
  • Sem insetos (com destaque para os escaravelhos), as fezes que os animais selvagens e domesticados vão espalhando, em quantidades inimagináveis pelos campos (só num cavalo adulto são cerca de 10 kg por dia), representariam um problema semelhante aos dos animais mortos.
  • Sem o auxílio dos insetos na decomposição da matéria vegetal morta libertando nutrientes (em especial o nitrogénio e o fósforo) os imprescindíveis solos do nosso planeta rapidamente se tornariam estéreis.
Sem insetos passear pelos campos do nosso planeta seria uma atividade nauseabunda / mortal, feita no meio de um silêncio ensurdecedor pois, nem os insetos nem as aves se fariam ouvir. Mas mesmo a paisagem se tornaria desoladora, pois sem os férteis solos orgânicos gerados com o auxílio da ininterrupta ação decompositora dos insetos e de outros pequenos seres a que também não ligamos nenhuma, a maior parte da vegetação tenderia a desaparecer ou a sobreviver sem a exuberância que, apesar de tudo, ainda apresenta atualmente em muitos locais. Sem dúvida que quando virmos moscas, mosquitos, vespas ou formigas em vez de corrermos a apanhar mata-moscas e inseticidas, será preferível sorrirmos lembrando-nos que só podemos viver como vivemos devido às ações incansáveis destes pequenos seres.

Esta é uma das 150 perguntas-respostas que integram o livro SUSTENTABILIDADE INSUSTENTÁVEL?!...; PORQUE O ANTROPOCÉNICO PODE NÃO EXISTIR MAS… É IMPORTANTE!!!
da autoria de Rui Dias que será editado pelo Centro Ciência Viva de Estremoz ainda esta primavera.

a equipa Centro Ciência Viva de Estremoz
 
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