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AFINAL OS GEÓLOGOS NÃO ACEITAM O ANTROPOCÉNICO?ISTO SIGNIFICA QUE O NOSSO PLANETA NÃO ESTÁ ASSIM TÃO MAL E TEMOS ANDADO A SER ENGANADOS?O QUE SIGNIFICA A REJEIÇÃO DO ANTROPOCÉNICO COMO UNIDADE FORMAL DO TEMPO GEOLÓGICO?SER OU NÃO SER ANTROPOCÉNICO EIS A QUESTÃO? |
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O ANTROPOCÉNICO é um termo que tem vindo a ser amplamente utilizado expressando a forma como muitos dos processos naturais do nosso planeta têm vindo a ser profundamente alterados pelo impacto humano. Mas no passado dia 4 de Março a Subcomissão de Estratigrafia do Quaternário, da Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS) REJEITOU por larga maioria que o Antropocénico fosse considerado uma época geológica formal!!! | |
É fácil de antever que o facto da subcomissão da Estratigrafia do Quaternário ter rejeitado por larga maioria que o Antropocénico fosse considerado uma época geológica formal, vai ser interpretado por muitos como a evidência de que afinal não temos vindo assim a estragar o Mundo como andam para aí a dizer. Ou que os geólogos andam sempre preocupados com os milhões de anos e os fósseis e não conseguem perceber o presente e as pessoas. Ou que, mesmo entre os especialistas há dúvidas sobre a gravidade do momento que atravessarmos. | |
Perante a NECESSIDADE URGENTE de procurar FORMAS SUSTENTÁVEIS DE VIVER, é importante esclarecer o que implica esta rejeição. Com efeito, ela de modo nenhum implica a negação da gravidade do momento presente, nem sequer minimiza a influência das nossas acções. Também não traduz a infiltração de algum grupo de influência nebuloso ao serviço de algum grupo financeiro infiltrado na referida subcomissão, tendo em vista impedir a necessidade urgente de mudarmos a forma insustentável como vivemos. Por incrível que possa parecer o desacordo entre os especialistas resulta precisamente de a maioria da subcomissão entender que a formalização do Antropocénico como a unidade do tempo geológico mais recente, tendia a minimizar a dimensão dos nossos impactos nos sistemas naturais. |
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Do ponto de vista científico, a formalização de uma unidade geológica pela ICS implica necessariamente a definição de limites temporais rigorosos que a limitem... e é aqui que a situação se revela complicada. Embora sem procurar entrar em pormenores, a ICS estabeleceu há já vários anos que os últimos 2,58 milhões de anos se integram no período QUATERNÁRIO essencialmente caracterizado pela existência de ciclos em que as épocas glaciares alternam com períodos interglaciares caracterizados por climas mais amenos. A ICS reconheceu ainda que o Quaternário estava dividido em duas épocas, o Plistocénico e o Holocénico. O HOLOCÉNICO iniciou-se há 11 650 anos e corresponde ao início do último ciclo interglaciar no qual ainda vivemos. O destaque dado ao último ciclo, deriva precisamente do reconhecimento dos enormes impactos que a nossa espécie tem vindo a causar no ambiente no qual se insere. As extinções da megafauna, o começo da agricultura com a desflorestação generalizada, as enormes implicações da época das "descobertas" com o advento da globalização e da dispersão global de espécies invasoras, a revolução industrial, as bombas nucleares, ou a "grande aceleração" de meados do século passado são apenas alguns dos principais acontecimentos que fizeram com que o Mundo nunca mais fosse o mesmo... |
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Para a generalidade dos membros da subcomissão que rejeitou a formalização do Antropocénico como a unidade do tempo geológico mais recente, a sua aceitação era uma forma de branquear a desastrosa influência do Homo sapiens nos ecossistemas onde se foi inserindo. Tentar arranjar um limite neste processo contínuo de sobre-exploração do nosso planeta (tanto mais que os vários processos da nossa interferência ocorreram de uma forma diacrónica nas várias regiões) era um exercício sem sentido e limitador da percepção do que temos vindo a fazer por aí... Porque resolver utilizar os ensaios nucleares (e 1952 como proposto) em detrimento da revolução industrial ou da agricultura ou de...? A única justificação prendia-se com a necessidade de arranjar um limite identificável em todo o mundo de uma forma síncrona (uma exigência da ICS para aceitar a definição de novas unidades). |
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É também fundamental realçar que a generalidade de quem votou contra a formalização do ANTROPOCÉNICO como unidade geológica, é totalmente a favor de considera-lo um EVENTO GEOLÓGICO, tal como acontece com outros momentos particulares da evolução do nosso planeta, como o Grande Evento de Oxigenação há cerca de 2500 milhões de anos, quando as cianobactérias começaram a "inundar" a atmosfera da Terra com oxigénio levando ao começo da transformação de uma atmosfera redutora em oxidante contendo abundante oxigénio livre. | |
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Por isso, não importa se o Antropocénico é ou não uma época geológica, claramente ele é um evento geológico que merece que nos unamos todos e não andemos a dividir-nos em questões de nomenclaturas. O Antropocénico pode "não existir" mas... é importante. |
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a equipa Centro Ciência Viva de Estremoz | |
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