Quando eu traço a meu prazer os movimentos dos corpos celestiais, eu já não toco a terra com os meus pés: eu estou na presença do próprio Zeus e me alimento de ambrosia, o manjar dos deuses.

- Ptolomeu

Se atualmente a Ciência está e é produzida principalmente nas universidades e nos laboratórios de investigação, tempos houve em que os Conventos apareciam não só como locais de Culto, mas também como templos do Saber. O Convento das Maltezas surge assim como um local privilegiado para numa noite de outono em torno de um ceia monástica contactar com algumas das personagens que moldaram a forma como os Homens foram encarando o Universo que os rodeia. Da perfeição das esferas de cristal de Aristóteles, onde se encontravam pendurados os planetas do nosso Sistema Solar, até à maravilhosa visão que a Ciência Actual nos proporciona um longo caminho foi percorrido... Quase 2500 anos de mudanças que, longe de serem graduais, representam essencialmente ruturas bruscas resultantes do trabalho e da criatividade de alguns que, precisamente por esses contributos, nos habitu´mos a considerar como Génios.

A enorme dispersão temporal em que estes saltos qualitativos no progresso científico ocorreram impediu quase sempre que os vários participantes se tivessem encontrado e debatido os seus pontos de vista. No entanto, nos Manjares no Claustro/Viagens no Cosmos, a imaginação vai permitir ultrapassar estes "pequenos constrangimentos". Com o apoio de alguns cientistas será possível recriar/imaginar alguns dos momentos que, embora nunca tenham tido a oportunidade de ter ocorrido permitem, não só perceber a forma como a Ciência evoluiu/evolui, mas também alguns dos momentos particulares que acabaram por despoletar novas abordagens. As supernovas de Tycho Brahe em 1572 e de Kepler em 1604 ou os cometas que foram ocasionalmente percorrendo os céus foram sem dúvida fenómenos que pelo seu impacto acabaram por ter uma influência decisiva nalguns dos que os presenciaram e, foram capazes de ver para além do simples aspeto visual. Mas, quantas vezes o progresso acabou por vir de inovações tecnológicas... sem a luneta recém inventada, muitas das descobertas mais influentes de Galileu não teriam sido possíveis.
No entanto, quer influenciada por simples acasos, quer pelo progresso tecnológico, a evolução do Conhecimento resultou essencialmente da perspetiva completamente inovadora que alguns souberam introduzir no pensamento até então dominante.

Se nunca conseguiremos saber o que teria acontecido se Aristóteles, Ptolomeu, Copérnico, Tycho Brahe, Kepler, Galileu, Newton ou Einstein se tivessem encontrado, pelo menos nos Manjares no Claustro / Viagens no Cosmos vai ser possível ter uma ideia sobre alguns dos seus contributos mais importantes.

Rui Dias

A fundação do Mosteiro, único em Portugal dos Cavaleiros de Rodes, outrora no Hospital de S. João de Jerusalém e a partir de 1530 da Ordem de Malta, teve princípio em Évora em 1519, cuja instigadora, a fidalga Isabel Fernandes, juntamente com outras irmãs fundadoras se instalou em casas da Ordem. Em 1530 e por determinação do Infante D. Luís, filho do Rei D. Manuel e novo Prior do Crato, as religiosas mudam para o paço de D. Fernando de Noronha, filho do 1.º Conde de Faro D. Afonso, alcaide-mor de Estremoz. Esta mudança deve-se à ruína da habitação de Évora. O paço foi adquirido pelas rendas da Ordem e nomeando Prioresa D. Leonor da Silva, deslocada como reformadora, do Convento de Santa Clara da mesma cidade.

O processo de transferência da comunidade para a vila de Estremoz, a instâncias de D. Luís, teve seu começo, com beneplácito do Conselho de Malta e do Grão-Mestre D. Fr. Filipe de Villiers de L'Isle Adam, e confirmado pela Bula de Paulo III, dada em Viterbo aos 16 de Dezembro de 1539.

Mosteiro que havia sido mandado construir anos antes pelo el-rei VENTUROSO (D. Manuel), e D. João III doou a seu irmão D. Luís, Condestável do Reino, para este fim sagrado. Segundo outros autores, que afirmam que o edifício havia sido expressamente construído pelo Infante D. Luís com objectivo de aí fundar um colégio de ensino superior, algo que não logrou alcançar apesar da Bula de Paulo III de 20-12-1542, que o autoriza a tirar 3000 ducados de ouro dos rendimentos do mestrado da Ordem de Malta para sustento do colégio edificado em Estremoz. Teve alojamento inicial de 33 freiras de hábito e 7 conversas ¹.

Em 1759 o infante [D. Pedro, que fora nomeado Grão-Prior do Crato, por seu pai D. João V] visita a casa concedendo-lhe vultuosas mercês e subsídios, o que permite a ampliação do edifício. Sucedendo na administração do Priorado o filho do Rei-consorte, D. João, Príncipe do Brasil e futuro rei que igualmente beneficiou a casa que visitou 2 vezes em 1806. No mesmo período o Convento, por súplicas das religiosas, obteve do príncipe Regente o decreto que concedeu licença para a comunidade voltar à primitiva observância, pois tudo indica que durante um breve período o Convento foi concedido aos religiosos da regular observância de S. Francisco de Assis.

A casa extingue-se a 31 de maio de 1878 com a morte da última freira malteza, D. Ana Guilhermina da Purificação, seguindo-se pelo arrolamento dos bens mobiliários e imobiliários do Convento. O inventário oficial demonstra que havia excepcional recheio artístico nesta que foi a mais rica comunidade de Estremoz e das mais opulentas do reino, só se deu por terminado em meados de Novembro com mais de 1000 espécies classificadas, incluindo livraria de 83 obras impressas e as centenas de tombos manuscritos foram recolhidos ulteriormente no Governo Civil de Évora. De 8 de Dezembro a Março do ano seguinte dá-se início à hasta pública de notável fundo de artes decorativas com volumosos núcleos pictóricos, de prataria e joalharia, mobiliário e paramentaria. Após o encerro do mosteiro a opinião pública movimentou-se para que nele fosse instalado o Hospital Civil da Misericórdia, diligência coroada de êxito com a publicação do Dec. de 29 de Agosto do mesmo ano com homologação ministerial definitiva dada pelo Dec. de 22 de Dezembro de 1881. A concessão implicou também na mudança do Beatério ou Asilo de raparigas desvalidas instalado no Hospital da Porta Nova e na absorção da antiquíssima albergaria de N.a S.a dos Mártires.

N.R.:
¹ Conversas - Nos mosteiros tradicionais havia uma divisão de funções, na qual as monjas conhecidas como 'coristas', geralmente instruídas e recrutadas entre a aristocracia, dedicavam-se apenas a oração já as camponesas estavam destinadas a servir como criadas. Nos mosteiros tradicionais, essas irmãs leigas, denominadas 'conversas' e mantidas à parte como domésticas, não podiam viver plenamente a religião.

Bibliografia
COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]
CRESPO, Marques, Estremoz e o seu termo regional, Estremoz, 1950
ESPANCA, Túlio Inventário Artístico de Portugal-Distrito de Évora. Lisboa: [s.n.], 1975
MARQUES, José Epifanio, Breve Memória a cerca da Instituição das Religiosas Maltesas em Portugal, 1899
«Portugaliae Monumenta Misericordiarum», direcção de José Pedro Matos Paiva, Lisboa, União das Misericórdias Portuguesas e Universidade Católica Portuguesa, 2011, vol. 9, tomo II.

Ad Ruina - Nuno Mourinha e Vasco Abegoaria
(este texto não foi escrito segundo o acordo ortográfico)