A pesquisa sobre os Bonecos de Santo Aleixo, teve por base a recolha bibliográfica e realização de entrevistas aos intervenientes que pertenceram às famílias titereiras e ainda aos que dão continuidade à tradição, bem como, o contacto presencial e trabalho com “mestres” artesãos, havendo assim a apreensão de técnicas de “Arte Pastoril” para a construção dos Bonecos.
A história dos bonecos, a sua origem e o seu percurso, são difíceis de reconstruir na totalidade. Não se sabe ao certo onde surgem, nem como. O primeiro documento conhecido onde se fala dos bonecos reporta-se ao final do século XVIII, embora não esclareça a identidade do titereiro, fala já do Padre Chancas, como uma figura de ações muito pouco clericais, e que levou a que todo o elenco de bonecos fosse queimado num auto-de-fé em Vila Viçosa.

No entanto, é nos anos 80 que ocorre um movimento de revivalismo das tradições populares, e por todo o Portugal começa a assistir-se a novos focos de recolha e resgate deste universo cultural emergente, onde os bonecos de Santo Aleixo não foram exceção. Entre alguns nomes de investigadores, são de realçar as recolhas de Michel Giacometti juntamente com o Arquitecto Gustavo Marques e o Maestro Fernando Lopes Graça, que realizaram um vasto trabalho etnomusicólogo sobre as origens dos bonecos, chegando mesmo a editar uma edição audiovisual sobre a música e as raízes culturais dos bonecreiros.
A dinastia que se conhece melhor é a de um homem chamado, Nepomoceno, o recriador dos textos dos bonecos, que ao exilar-se em S. Romão, concelho de Vila Viçosa, inicia a sua atividade como títereiro para ter trabalho nas alturas em que não o havia. O Alentejo, ao contrário do norte do país, por causa da sua Geografia, era constituído por latifúndios.
As pessoas, eram obrigadas a trabalhar para os grandes senhores. Trabalhos esses sazonais, por épocas. A ceifa, a apanha da azeitona, vindima... Fora dessas épocas o trabalho era escasso. Os bonecos eram então uma forma de se ganhar dinheiro. A família títereira seguinte foi a de Manuel Jaleca. Tocador de guitarra, que recebe o "estojo" dos bonecos através do casamento com uma bisneta de Nepomoceno. Durante muitos anos foi ele o principal bonecreiro. Numa altura de pouco trabalho, Manuel Jaleca convida um poeta popular, conhecido pelo seu dom de repentista, a integrar a família. Esse poeta, que veio dar uma nova vida aos bonecos era o Mestre Talhinhas, trabalhador rural de Santiago Rio de Moinhos, concelho de Borba. Passados alguns anos, Manuel Jaleca divorcia-se da mulher e vende ao seu melhor discípulo o "estojo". Nesta transição perdem-se alguns textos, que o Mestre Talhinhas ainda tentou obter, mas não conseguiu. A fase Talhinhas ainda durou alguns anos, chegando mesmo a fazer digressão nacional, subsidiada pela Gulbenkian, e a uma temporada na Casa da Comédia em Lisboa. Porém o Mestre Talhinhas começa a ficar cansado, e tenta vender o espólio dos bonecos.

O Centro Dramático de Évora - CENDREV é o principal interessado e, acaba por comprar os bonecos e encetar uma formação com os alunos do curso de teatro. Forma-se assim uma nova família títereira.
Esta nova famíla tem contacto directo com o Mestre Talhinhas, que os ensina a manipular os bonecos, fornece textos... Novos bonecos são construídos, os utilizados anteriormente, são guardados para não se deteriorarem mais. É chamado para o processo de construção o Mestre Rolo, artesão que trabalha madeira, reside ainda hoje na freguesia da Glória, concelho de Estremoz. Durante dois anos dá-se uma digressão com a família original do CENDREV, que acaba com uma última apresentação em Estremoz. Alguns alunos abandonam o projeto e seguem vida profissional em diferentes companhias. Volta-se a formar uma nova família títereira, que é a mesma que ainda hoje faz os "Bonecos de Santo Aleixo", pelo CENDREV.

À parte destas melhores documentadas famílias, houve outras, algumas ainda hoje existentes, como é o caso dos bonecos feitos em São Bento do Cortiço, onde um grupo de pessoas se juntaram e criaram os seus próprios "Bonecos de Santo Aleixo". Um outro caso é o de Mestre Sandes, da Orada. Menos documentado que os outros, e considerado mais fraco em termos de repertório, perdeu-se muito sobre este títereiro. Os seus bonecos estão hoje expostos e guardados na Junta de Freguesia da Orada. O que difere todos estes grupos antigos, dos que hoje existem é o seu lado itinerante.

UMA TRADIÇÃO FAMILIAR…

Era costume fazerem-se os espetáculos dos Bonecos à porta fechada rodeado de todo um sincretismo capaz de auferir calamidades públicas nas encruzilhadas dos ditos e não ditos.
Numa espécie de teatro ambulante, sabia-se que os bonecos e bonecreiros primavam pela sua irreverência e sátira social, como nos diz Michel Giacometti "na verdade nada se conhece comparável a este espetáculo, pelo menos na Europa ocidental, onde as famosíssimas marionetas que sobrevivem na Bélgica e na Sicília não possuem estas qualidades de rigor e fantasia na expressão, nem tão pouco esta virtude rara de salutar agressividade." Valendo-se da boa arte de falar ao despique, sabia-se que o experimentalismo criativo e a improvisação eram fundamentais, em grande parte nesta forma de teatro, embora em alguns momentos, os bonecreiros já soubessem como provocar algum espectador da audiência. Os espetáculos dos “Bonecos das Maltezas” pretendem recriar todo este ambiente sendo, no entanto, centrados em Autos de Ciência, ou seja, em prol da divulgação e promoção da Cultura Científica e Tecnológica.

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